Rui Brazão

Rui Brazão

sábado, 26 de março de 2016

Dharma

  • Praticar o Dharma Correctamente


    Padmakara, o mestre de Oddiyana, residiu em Samye depois do ser convidado [a visitar] o Tibet pelo rei [Trisong Detsen]. Ele deu numerosos ensinamentos ao rei, aos seus ministros e a outras pessoas devotadas na parte leste do templo central. Já que elas não entenderam correctamente, ele deu este conselho repetidamente.

    O mestre Padmakara disse:
     Não importa quanto eu ensine, o povo do Tibete não entende; ao invés [de seguir os ensinamentos], engaja-se em nada mais que acções pervertidas. Se você quiser praticar o Dharma desde o núcleo de seu coração, faça isso:

    Ser um leigo budista não apenas significa observar os quatro preceitos raiz; significa jogar fora os erros não-virtuosos. Ser um noviço não simplesmente significa assumir um exterior puro; significa praticar a virtude correctamente. Ser um monge não apenas significa controlar o corpo, a fala e a mente nas actividades diárias e ser proibido de fazer todos os tipos de coisas; significa trazer todas as raízes ao caminho da grande iluminação.

    Ser virtuoso não apenas significa vestir robes amarelos; significa temer o amadurecimento do karma. Ser um amigo espiritual não apenas significa assumir uma conduta dignificada; significa ser o glorioso protector de todos. Ser um yogi não apenas significa se comportar brutalmente; significa misturar a própria mente com a natureza do dharmata.

    Ser um mantrika não apenas significa murmurar encantos; significa atingir rapidamente a iluminação através do caminho da união dos meios e conhecimentos. Ser um meditador não apenas significa viver em uma caverna; significa treinar no verdadeiro significado [do estado natural]. Ser um eremita não apenas significa viver na floresta profunda; significa que a própria mente está livre das construções dualistas.

    Ser instruído não apenas significa manter as oito preocupações mundanas; significa distinguir certo e errado. Ser um bodhisattva não significa reter um auto-interesse interior; significa esforçar-se nos meios para liberar todos os seres sencientes do samsara.

    Ter fé não significa choramingar; significa entrar no caminho correcto sem medo da morte e do renascimento. Ser diligente não significa se engajar em várias actividades sem descanso; significa esforçar-se nos meios para deixar a existência samsárica para trás. Ser generoso não simplesmente significa dar com distorção e parcialidade; significa estar profundamente livre do apego a qualquer coisa que seja.

    Instrução oral não significa ter muitos livros escritos; significa algumas palavras que golpeiam o ponto vital em sua mente. Visão não simplesmente significa opinião filosófica; significa estar livre das limitações das construções mentais. Meditação não significa se fixar sobre algo com pensamento; significa que sua mente é estável na cognição natural, livre da fixação.

    Acção espontânea não apenas significa agir com louco abandono; significa estar livre da fixação sobre as percepções deludidas como sendo reais. O conhecimento diferenciador [prajna] não significa o intelecto aguçado do pensamento confundido; significa entender que todos os fenómenos são não-surgidos e vazios de construções mentais.

    Aprendizado não apenas significa receber ensinamentos através dos ouvidos; significa cortar completamente os conceitos erróneos e ter realização além da mente conceptual. Reflectir não apenas significa seguir o pensamento conceptual e formar suposições; significa cortar completamente seu apego deludido. Fruição não apenas significa os rupakayas convidados de Akanishtha; significa reconhecer a natureza da mente e atingir estabilidade nela.

    Não confunda as palavras com o significado dos ensinamentos. Misture a prática com o seu próprio ser e atinja a liberação do samsara bem agora.
    (Advice from the lotus born: a collection of Padmasambhava's advice to the dakini Yeshe Tsogyal and other close disciples. Introdução de S.E. Tulku Urgyen Rinpoche, tradução de Erik Pema Kunzang e edição de Marcia Binder Schmidt. Kathmandu: Rangjung Yeshe, 1994. Pág. 99-100.)

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