Rui Brazão

Rui Brazão

sábado, 30 de abril de 2016

Impossível é não Viver

Impossível é não Viver

Se te quiserem convencer de que é impossível, diz-lhes que impossível é ficares calado, impossível é não teres voz. Temos direito a viver. Acreditamos nessa certeza com todas as forças do nosso corpo e, mais ainda, com todas as forças da nossa vontade. Viver é um verbo enorme, longo. Acreditamos em todo o seu tamanho, não prescindimos de um único passo do seu/nosso caminho. 

Sabemos bem que é inútil resmungar contra o ecrã do telejornal. O vidro não responde. Por isso, temos outros planos. Temos voz, tantas vozes; temos rosto, tantos rostos. As ruas hão-de receber-nos, serão pequenas para nós. Sabemos formar marés, correntes. Sabemos também que nunca nos foi oferecido nada. Cada conquista foi ganha milímetro a milímetro. Antes de estar à vista de toda a gente, prática e concreta, era sempre impossível, mas viver é acreditar. Temos direito à esperança. Esta vida pertence-nos. 

Além disso, é magnífico estragar a festa aos poderosos. É divertido, saudável, faz bem à pele. Quando eles pensam que já nos distribuíram um lugar, que já está tudo decidido, que nos compraram com falinhas mansas e autocolantes, mostramos-lhes que sabemos gritar. Envergonhamo-los como as crianças de cinco anos envergonham os pais na fila do supermercado. Com a diferença grande de não sermos crianças de cinco anos e com a diferença imensa de eles não serem nossos pais porque os nossos pais, há quase quatro décadas atrás, tiveram de livrar-se dos pais deles. Ou, pelo menos, tentaram. 

O único impossível é o que julgarmos que não somos capazes de construir. Temos mãos e um número sem fim de habilidades que podemos fazer com elas. Nenhum desses truques é deixá-las cair ao longo do corpo, guardá-las nos bolsos, estendê-las à caridade. Por isso, não vamos pedir, vamos exigir. Havemos de repetir as vezes que forem necessárias: temos direito a viver. Nunca duvidámos de que somos muito maiores do que o nosso currículo, o nosso tempo não é um contrato a prazo, não há recibos verdes capazes de contabilizar aquilo que valemos. 

Vida, se nos estás a ouvir, sabe que caminhamos na tua direcção. A nossa liberdade cresce ao acreditarmos e nós crescemos com ela e tu, vida, cresces também. Se te quiserem convencer, vida, de que é impossível, diz-lhe que vamos todos em teu resgate, faremos o que for preciso e diz-lhes que impossível é negarem-te, camuflarem-te com números, diz-lhes que impossível é não teres voz. 

José Luís Peixoto, in 'Abraço' 

quinta-feira, 28 de abril de 2016

A Subfelicidade

A Subfelicidade

O que mais dói não é – desengana-te – a infelicidade. A infelicidade dói. Magoa. Martiriza. É intensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar. Mas a infelicidade não é o que mais dói. A infelicidade é infeliz – mas não é o que mais dói. 

O que mais dói é a subfelicidade. A felicidade mais ou menos, a felicidade que não se faz felicidade, que fica sempre a meio de se ser. A quase felicidade. A subfelicidade não magoa – vai magoando; a subfelicidade não martiriza – vai martirizando. Não é intensa – mas é imensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar – mas em silêncio, em surdina, em anonimato. Como se não fosse. Mas é: a subfelicidade é. A subfelicidade faz-te ficar refém do que tens – mas nem assim te impede de te sentires apeado do que não tens e gostarias de ter. Do que está ali, sempre ali, sempre à mão de semear – e que, mesmo assim, nunca consegues tocar. A subfelicidade é o piso -1 da felicidade. E não há elevador algum que te leve a subir de piso. Tens de ser tu a pegar nas tuas perninhas e a subir as escadas. Anda daí. 

Sair da subfelicidade é um drama. Um pesadelo. Sair da subfelicidade é mais difícil do que sair da infelicidade. Para sair da infelicidade, toda a gente sabe – tu mesmo o sabes: tens de tomar medidas drásticas. Medidas radicais. Porque a infelicidade é, também ela, radical. Mas sair da subfelicidade é uma batalha interior muito mais dolorosa. Desde logo, porque não sabes se queres, mesmo, sair da subfelicidade. Porque é na subfelicidade que consegues ter a certeza de que evitas a desilusão – terás, no máximo, a subdesilusão; porque é na subfelicidade que consegues ter a certeza de que evitas a perda – terás, no máximo, a subperda. Estás a ficar perdido com o que te digo? 

A subfelicidade é o produto mais diabólico que a humanidade criou. A subfelicidade é resultado da mente, também ela diabólica, de quem tem consciência. Para um cão, para um gato, para um periquito, para um leão ou até para uma formiga, não existe a subfelicidade: a felicidade pacífica. Impossível: ou está feliz porque tem comida e bebida, ou está infeliz porque nada tem para comer ou nada tem para beber. Os animais, por mais cores que os olhos lhes dêem a ver, vêem o mundo a preto e branco . Ou é preto ou é branco. Ou é feliz ou infeliz. Ou é tudo ou é nada. O humano, esse, foi mais longe. E foi por isso que ficou, cada vez mais, refém do que está perto – do que está seguro. Formatado pela consciência, o homem assimilou um conceito que, na verdade, não existe: o da felicidade segura. Espero que estejas bem seguro nessa cadeira quando leres o que aí vem no próximo parágrafo. 

A felicidade segura não existe. A felicidade segura é segura, sim – mas não é felicidade. A felicidade pacífica é pacífica, sim – mas não é felicidade. A felicidade, quando é felicidade, assolapa, euforiza, arrebata. E não deixa respirar, e não deixa sequer pensar. A felicidade, quando é felicidade, é só felicidade. E tudo o que existe, quando existe felicidade, é a felicidade. Só ela e tu. Ela em ti. Ela em todo o tu. A felicidade, para ser felicidade, não tem estratos, não tem razão. Ou é ou não é. A felicidade é animal, de facto – mas é ainda mais demencial. Deixa-te louco de felicidade, maluco de alegria, passado dos cornos. Só quando estás dentro da felicidade é que estás fora de ti. Liberto do corpo, da matéria, da sensação – e imerso naquela indizível comunhão. Tu e a felicidade. Já a sentiste, não? 

Não há como dizer de outra maneira: se estás acomodado à subfelicidade, se tens medo de ser feliz e preferes a certeza de seres subfeliz: és um triste de todo o tamanho. A subfelicidade é uma tristeza. Uma tristeza de hábitos, de rotinas, de sorrisos – uma tristeza que inibe a surpresa, o imprevisível, a gargalhada. Uma tristeza que te faz refém do que fazes e te impede de te seres o que és. Olha em redor: a toda a volta há pessoas subfelizes, pessoas que dizem “vai-se andando”, pessoas que dizem “tem de ser”, pessoas que dizem “eu até gosto dele”, pessoas que dizem “sou feliz” com os olhos cheios de “queria ser feliz”, pessoas que dizem “é a vida”. Mas não é. A vida não é a quase felicidade. A vida não é a subfelicidade. E, se é a primeira vez que vês isso, fica entendido o que sentes. Ou subentendido, pelo menos. 

Pedro Chagas Freitas, in 'Eu Sou Deus' 

segunda-feira, 25 de abril de 2016

A Felicidade vem da Monotonia

A Felicidade vem da Monotonia

Em sua essência a vida é monótona. A felicidade consiste pois numa adaptação razoavelmente exacta à monotonia da vida. Tornarmo-nos monótonos é tornarmo-nos iguais à vida; é, em suma, viver plenamente. E viver plenamente é ser feliz. 
Os ilógicos doentes riem - de mau grado, no fundo - da felicidade burguesa, da monotonia da vida do burguês que vive em regularidade quotidiana e, da mulher dele que se entretém no arranjo da casa e se distrai nas minúcias de cuidar dos filhos e fala dos vizinhos e dos conhecidos. Isto, porém, é que é a felicidade. 
Parece, a princípio, que as cousas novas é que devem dar prazer ao espírito; mas as cousas novas são poucas e cada uma delas é nova só uma vez. Depois, a sensibilidade é limitada, e não vibra indefinidamente. Um excesso de cousas novas acabará por cansar, porque não há sensibilidade para acompanhar os estímulos dela. 
Conformar-se com a monotonia é achar tudo novo sempre. A visão burguesa da vida é a visão científica; porque, com efeito, tudo é sempre novo, e antes de este hoje nunca houve este hoje. 
É claro que ele não diria nada disto. Às minhas observações, limita-se a sorrir; e é o seu sorriso que me traz, pormenorizadas, as considerações que deixo escritas, por meditação dos pósteros. 

Fernando Pessoa, in 'Reflexões Pessoais' 

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Individualismo e Individualidade

Individualismo e Individualidade

Há uma grande diferença entre o individualismo e a individualidade. O individualismo é uma característica doentia da personalidade, ancorada na incapacidade de aprender com os outros, na carência de solidariedade, no desejo de atender em primeiro, segundo e terceiro lugar aos próprios interesses. Em último lugar, ficam as necessidades dos outros. 

A individualidade, por sua vez, está ancorada na segurança, na determinação, na capacidade de escolha. É, portanto, uma característica muito saudável da personalidade. Infelizmente, desenvolvemos frequentemente o individualismo e não a individualidade. 

Augusto Cury, in 'Nunca Desista dos Seus Sonhos' 

quinta-feira, 21 de abril de 2016

A Tolerância é um Atributo dos Fortes

A Tolerância é um Atributo dos Fortes

A emoção é um campo de energia em contínuo estado de transformação. Produzimos centenas de emoções diárias. Elas organizam-se, desorganizam-se e reorganizam-se num processo contínuo e inevitável. O ideal seria que o círculo de transformação da emoção seguisse uma trajetória prazerosa, ou seja, que um sentimento de alegria se transformasse num sentimento de paz, que se transformasse numa reação de amor, que se transformasse numa experiência contemplativa. Mas, na realidade, o que ocorre na vida de cada ser humano é que a alegria se converte em ansiedade, o prazer em irritabilidade, enfim, as emoções alternam-se. 

Não é possível para a natureza humana ter uma emoção continuamente prazerosa. Não existe, como muitos psicólogos pensam, equilíbrio emocional. A emoção passa por inevitáveis ciclos diários. No entanto, a emoção é mais saudável quanto mais estável ela for e quanto mais perdurarem os sentimentos que alimentam o prazer e a serenidade. 

A tolerância é um atributo dos fortes e não dos fracos. A tolerância produz profunda estabilidade no campo da energia emocional. Só se constrói a tolerância quando se constrói primeiro a capacidade de compreender as limitações dos outros. 

Quanto mais uma pessoa for intolerante, mais será invadida pelos comportamentos dos outros, mais instável e angustiada será. O mesmo princípio ocorre com a capacidade de perdoar. Perdoar não é sinal de fraqueza, mas de grandeza. Só os fortes perdoam, só eles conseguem ver o que está por detrás dos comportamentos dos outros. A arte do perdão protege a emoção. A capacidade de perdoar e de ser tolerante depende de um treino. 

Augusto Cury, in 'Treinar as Emoções Para Ser Feliz' 

quarta-feira, 20 de abril de 2016

A Perseverança

A Perseverança

Se há pessoas que não estudam ou que, se estudam, não aproveitam, elas que não se desencorajem e não desistam; se há pessoas que não interrogam os homens instruídos para esclarecer as suas dúvidas ou o que ignoram, ou que, mesmo interrogando-os, não conseguem ficar mais instruídas, elas que não se desencorajem e não desistam; se há pessoas que não meditam ou que, mesmo que meditem, não conseguem adquirir um conhecimento claro do princípio do bem, elas que não se desencorajem e não desistam; se há pessoas que não distinguem o bem do mal ou que, mesmo que distingam, não têm uma percepção clara e nítida, elas que não se desencorajem e não desistam; se há pessoas que não praticam o bem ou que, mesmo que o pratiquem, não podem aplicar nisso todas as suas forças, elas que não se desencorajem e não desistam; o que outros fariam numa só vez, elas o farão em dez, o que outros fariam em cem vezes, elas o farão em mil, porque aquele que seguir verdadeiramente esta regra da perseverança, por mais ignorante que seja, tornar-se-á uma pessoa esclarecida, por mais fraco que seja, tornar-se-á necessariamente forte. 

Confúcio, in 'A Sabedoria de Confúcio' 

domingo, 17 de abril de 2016

A Grande Diferença da Vida é o Entusiasmo

A Grande Diferença da Vida é o Entusiasmo

A grande diferença da vida é o entusiasmo. É a força do vento. O entusiasmo é o nome feio que chamam às pessoas que acham graça a tudo o que existe na vida. 

A vida é a única volta que damos. Todos os nossos projectos - de sermos melhores ou mais egoístas, mais corajosos ou comedidos - vão contra o facto de não termos tempo para corresponder às nossas expectativas. 

Somos como somos. Mais vale dizermos como somos, com as palavras que temos, do que morrermos à espera de nos exprimirmos mais bem. Não há nenhuma pessoa viva que possa viver mais do que nós. Existem apenas aquelas pessoas práticas e abusadoras que aproveitam as vidas para fazer avançar tudo o que esperam da vida. 

A igualdade não é uma conquista: é um facto. Exprimirmo-nos é mais justo quanto menos jeito tivermos para isso. Falar em público não é um desafio: é uma prova de proximidade. 

O entusiasmo é uma vontade de perder tempo. Nada se aprende sem se querer - desejar avidamente - perder tempo. O entusiasmo é uma coisa dos ventos e os ventos vêm de onde quiserem, quando menos se esperam. 

Os sonhos de expressão calam-nos as bocas e as mãos. Para começarmos a falar ou a escrever basta-nos começar a falar ou a escrever. Ter medo de falar ou escrever mal é que é o verdadeiro amigo da expressão. 

A verdade e a nossa vida coincidem. Ninguém tem mais palavras do que precisa. É enquanto estamos vivos que temos de dizer o que nos vai na alma - e como difere dos que ganham a vida com isso. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público (10 Jan 2016)' 
(Título original do texto: 'Falar por ser') 

sábado, 16 de abril de 2016

Inveja

Quem nunca sofreu com a inveja? 
A inveja é uma vontade frustrada de possuir os atributos ou qualidades de outra pessoa, pois aquele que deseja tais virtudes é incapaz de alcançá-las. 
Leia esta pequena fábula.

Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um pirilampo que só vivia para brilhar. Ele fugia rapidamente, com medo da cobra. Fugiu durante um dia e ela não desistia, dois dias e a cobra não desistia.

No terceiro dia, já sem forças, o pirilampo parou e disse à cobra:

Pirilampo: Posso fazer-lhe uma pergunta?

Cobra: Não costumo abrir esse precedente para ninguém, mas já que te vou devorar,  podes perguntar.

Pirilampo: Pertenço à sua cadeia alimentar?

Cobra: Não.

Pirilampo: Fiz-te alguma coisa?

Cobra: Não.

Pirilampo: Então porque me queres comer?

Cobra: PORQUE NÃO SUPORTO VER-TE BRILHAR!

Na sequência, reproduzo o texto “Pedras e Frutos” do livro Atitudes Vencedoras. Ele sintetiza a reflexão de hoje.

PEDRAS E FRUTOS

Não se atiram pedras em árvores sem fruto; toda tentativa de apedrejamento visa sempre derrubar os frutos. 
Inocente ignorância dos apedrejadores, porque, mesmo conseguindo o feito, se esquecem de que os frutos caídos no chão experimentarão o tempo e a decomposição e voltarão a frutificar, de uma ou de outra maneira, pois cada semente dá origem à essência interior que carrega. 
Já as pedras caídas no chão permanecerão pedras, e as mãos que as atiraram terminarão vazias, tão vazias quanto o coração e a alma das pessoas que lhes ativaram o movimento.

Não permita que a inveja atrapalhe sua vida! Ela só te fará mal se você permitir. Como dizia Mário Quintana: “Todos estes que aí estão atravancando o meu caminho. Eles passarão. Eu passarinho.”

-Desconheço autor

O Amor Social

O Amor Social

É necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena sermos bons e honestos. Vivemos já muito tempo na degradação moral, baldando-nos à ética, à bondade, à fé, à honestidade; chegou o momento de reconhecer que esta alegre superficialidade de pouco nos serviu. Uma tal destruição de todo o fundamento da vida social acaba por nos colocar uns contra os outros, na defesa dos próprios interesses, provoca o despertar de novas formas de violência e crueldade e impede o desenvolvimento de uma verdadeira cultura do cuidado do meio ambiente.

O exemplo de Santa Teresa de Lisieux convida-nos a pôr em prática o pequeno caminho do amor, a não perder a oportunidade de uma palavra gentil, de um sorriso, de qualquer pequeno gesto que semeie paz e amizade. Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo. Pelo contrário, o mundo do consumo exacerbado é, simultaneamente, o mundo que maltrata a vida em todas as suas formas.

O amor, cheio de pequenos gestos de cuidado mútuo, é também civil e político, manifestando-se em todas as ações que procuram construir um mundo melhor. O amor à sociedade e o compromisso pelo bem comum são uma forma eminente de caridade, que toca não só as relações entre os indivíduos mas também «as macrorrelações como relacionamentos sociais, económicos, políticos» (Papa Bento XVI) . Por isso, a Igreja propôs ao mundo o ideal de uma «civilização do amor» (Papa Paulo VI). O amor social é a chave para um desenvolvimento autêntico: «Para tornar a sociedade mais humana, mais digna da pessoa, é necessário revalorizar o amor na vida social — nos planos político, económico, cultural —, fazendo dele a norma constante e suprema do agir» (Pontifício Conselho Justiça e Paz). Neste contexto, juntamente com a importância dos pequenos gestos diários, o amor social impele-nos a pensar em grandes estratégias que detenham eficazmente a degradação ambiental e incentivem uma cultura do cuidado que permeie toda a sociedade. Quando alguém reconhece a vocação de Deus para intervir juntamente com os outros, nestas dinâmicas sociais, deve lembrar-se que isto faz parte da sua espiritualidade, é exercício da caridade e, deste modo, amadurece e se santifica.

Nem todos são chamados a trabalhar de forma direta na política, mas no seio da sociedade floresce uma variedade inumerável de associações que intervêm em prol do bem comum, defendendo o meio ambiente natural e urbano. Por exemplo, preocupam-se com um lugar público (um edifício, uma fonte, um monumento abandonado, uma paisagem, uma praça) para proteger, sanar, melhorar ou embelezar algo que é de todos. Ao seu redor, desenvolvem-se ou recuperam-se vínculos, fazendo surgir um novo tecido social local. Assim, uma comunidade liberta-se da indiferença consumista. Isto significa também cultivar uma identidade comum, uma história que se conserva e transmite. Desta forma cuida-se do mundo e da qualidade de vida dos mais pobres, com um sentido de solidariedade que é, ao mesmo tempo, consciência de habitar numa casa comum que Deus nos confiou. Estas ações comunitárias, quando exprimem um amor que se doa, podem transformar-se em experiências espirituais intensas.

Papa Francisco, in 'Laudato Si' - Sobre o Cuidado da Casa Comum' 

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Resgatar o Prazer de Viver

Resgatar o Prazer de Viver

É possível resgatar o prazer de viver, é possível treinar a emoção para ser jovem, desprendida, livre, feliz. 

Primeiro: Contemple o belo nos pequenos eventos da vida. 
Tenha sempre atividades programadas fora da sua agenda pelo menos uma vez por semana. Valorize aquilo que o dinheiro não compra e que não dá prestígio. 
Treine dez minutos por dia a contemplar a anatomia das flores, a gastar tempo a ver o brilho das estrelas, a experimentar o prazer de penetrar no mundo das pessoas. 
Não viva em função de grandes eventos, aprenda a extrair o prazer dos pequenos estímulos da rotina diária. 

Segundo: Irrigue o palco da mente com pensamentos agradáveis. 
Treine trazer diariamente à sua memória aquilo que lhe traz esperança, serenidade e encanto pela vida. Pense em conquistar pessoas e em superar os seus obstáculos. Pense em ser íntimo do Autor da vida e conhecer os mistérios da existência. 
Os seus maiores inimigos estão dentro de si. Não se deixe derrotar ou perturbar por pensamentos que lhe roubam a tranquilidade e o prazer de viver. 
Treine ver o lado positivo de todas as coisas negativas. Os negativistas veem os raios, os que renovam a emoção veem a chuva; os negativistas veem o caos e os que renovam a emoção veem uma oportunidade de começar tudo de novo. 

Terceiro: Pense como um adulto e sinta como uma criança. 
Treine pensar com lucidez, serenidade e consciência, mas tenha a simplicidade e a espontaneidade de uma criança. 
Treine ser uma pessoa agradável na sua empresa ou família. Cumprimente todas as pessoas do ambiente, aperte as suas mãos e sorria. Uma pessoa é mais jovem emocionalmente quanto mais agradável for. 

Quarto: Não faça o velório antes do tempo, não sofra por antecipação. 
Pense nos problemas e nas situações que ainda não aconteceram o suficiente para planear determinadas atitudes, mas jamais gravite em torno deles. 
Os que sofrem por antecipação treinam a infelicidade, gastam uma energia vital, fazem das suas vidas um canteiro de preocupações e stress. 

Quinto: Proteja a sua emoção nos focos de tensão. 
Não faça da sua emoção um balde de lixo social. Treine protegê-la nos focos de tensão, não permita que as ofensas, as perdas e as frustrações invadam a sua emoção. 
Você deve ser um pequeno peixe num mar de tensão. Está no mar, mas o mar não está em si. Não se esqueça de que pensar muito aumenta a ansiedade e a ansiedade crónica envelhece a emoção. 

Sexto: Não seja carrasco de si mesmo. 
Não coloque metas inatingíveis para si. Reconheça a sua falibilidade. Mesmo não querendo errar, acabará por falhar muitas vezes. Falhará, talvez, até em lições que já aprendeu. 
Não se destrua por causa de sentimentos de culpa nem cobre aos outros o que eles não podem dar. 
Comece tudo de novo quantas vezes for necessário. Aprenda a ser compreensivo e paciente consigo mesmo. Os que são carrascos de si mesmos encurtam a primavera da emoção. 

Augusto Cury, in 'Treinar as Emoções Para Ser Feliz' 

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Maturidade Emocional

Maturidade Emocional

Dez funções da inteligência multifocal resultantes do treino da emoção e da arte de pensar: 

1. A arte de amar a vida e tudo o que a promove. 

2. A arte de contemplar o belo. 

3. A arte da serenidade: pensar antes de reagir. 

4. A arte de expor e não impor as ideias. 

5. A arte da solidariedade. 

6. A arte de gerir os pensamentos dentro e fora dos focos de tensão. 

7. Colocar-se no lugar dos outros. 

8. Ter espírito empreendedor. 

9. Trabalhar perdas e frustrações. 

10. Trabalhar em equipa. 

Se você tem cinco dessas características bem trabalhadas na sua personalidade, a sua maturidade emocional está bem acima da média. Se, das seis artes da inteligência multifocal, você viver intensamente pelo menos três delas, saiba que é um poeta da vida. Infelizmente, a grande maioria das pessoas não tem constituída na colcha de retalhos da personalidade nem sequer duas dessas dez características. 

Augusto Cury, in 'Treinar as Emoções Para Ser Feliz' 

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Somos aquilo que Pensamos

Somos aquilo que Pensamos

Os nossos pensamentos determinam aquilo que somos. A nossa atitude mental é o factor X que determina o nosso destino. Emerson disse: «Um homem é aquilo em que pensa o dia inteiro». Como poderia ser outra coisa qualquer? Estou convencido, sem qualquer sombra de dúvida, que o maior problema que temos de enfrentar - na realidade, trata-se praticamente do único problema que temos de enfrentar - é a escolha dos pensamentos certos. Se conseguirmos, estaremos no caminho certo para resolver todos os nossos problemas. Marco Aurélio, o grande filósofo que governou o Império Romano, resumiu esta questão em onze palavras — onze palavras que podem determinar o seu destino: «A nossa vida é aquilo que os nossos pensamentos fazem dela». 

É verdade, se pensarmos em coisas felizes, seremos felizes. Se pensarmos em desgraças, seremos uns desgraçados. Se pensarmos em coisas assustadoras, viveremos com medo. Se pensarmos em doenças, ficaremos provavelmente doentes. Se pensarmos em falhar, é certo que falhamos. Se ficarmos mergulhados em autocomiseração, vão todos afastar-se de nós e evitar-nos. Norman Vincent Peale afirmou: «Tu não és o que pensas que és; tu és o que tu pensas». 

Estarei eu a defender uma típica atitude de Pollyanna (clássico de Eleane H. Porter, que retrata uma personagem excessivamente optimista) em relação aos nossos problemas? Não, infelizmente, a vida não é assim tio simples. Mas defendo que devemos assumir uma atitude positiva em vez de uma atitude negativa. Por outras palavras, temos de dar importância aos nossos problemas, mas não preocupar-nos como eles. Qual é a diferença entre dar importância e preocupar-se? Eu dou um exemplo: sempre que atravesso as ruas congestionadas de Nova Iorque, dou importância àquilo que estou a fazer, mas não me preocupo. Dar importância significa ter consciência dos problemas e tomar calmamente as medidas necessárias. Preocupar-se significa andar inutilmente às voltas até dar em louco. 

Uma pessoa pode dar importância aos seus problemas sérios e, ainda assim, caminhar de cabeça erguida e com um cravo na lapela. 

Dale Carnegie in "Como Deixar de Se Preocupar e Começar a Viver" 

domingo, 10 de abril de 2016

Só Hoje

Só Hoje

1. Só hoje, vou ser feliz. Isto pressupõe que o que Abraham Lincoln disse é verdadeiro: «A maioria das pessoas é feliz na medida em que resolve sê-lo.» A felicidade está dentro de nós, não é uma questão exterior. 

2. Só hoje, vou tentar adaptar-me às coisas como elas são e não tentar adaptar tudo aos meus próprios desejos. Vou aceitar a minha família, o meu trabalho e a minha sorte tal como são e adaptar-me a eles. 

3. Só hoje, vou cuidar do meu corpo. Vou exercitá-lo, cuidar dele, nutri-lo, não abusar dele nem negligenciá-lo, para que seja uma máquina perfeita ao meu dispor. 

4. Só hoje, vou tentar fortalecer a minha mente. Vou aprender alguma coisa útil. Não vou ser um preguiçoso mental. Vou ler alguma coisa que exija esforço, raciocínio e concentração. 

5. Só hoje, vou exercitar a minha mente de três maneiras: vou fazer bem a alguém sem essa pessoa descobrir. Vou fazer pelo menos duas coisas que não quero fazer, como sugere William James, só para me exercitar. 

6. Só hoje, vou ser agradável. Vou apresentar-me o melhor que puder, vestir-me o mais correctamente possível, falar baixo, ser cortês, ser pródigo nos elogios e não criticar nada, não achar defeitos em nada nem tentar controlar ou corrigir ninguém. 

7. Só hoje, vou tentar viver a minha vida um dia de cada vez e não tentar resolver todos os meus problemas ao mesmo tempo. Durante doze horas, posso fazer coisas que me intimidariam se tivesse de fazê-las durante a vida inteira. 

8. Só hoje, vou ter um plano. Vou escrever o que espero fazer em cada hora. Posso não o seguir à risca, mas tenho-o à minha disposição. Isso vai eliminar dois males: a pressa e a indecisão. 

9. Só hoje, vou passar uma meia hora tranquila sozinho a descontrair. Durante essa meia hora, vou pensar algumas vezes em Deus, para conseguir ter uma perspectiva um pouco melhor da minha vida. 

10. Só hoje, não vou ter medo. Sobretudo, não vou ter medo de ser feliz, de desfrutar do que é belo, de amar e de acreditar que aqueles que amo também me amam. 

Dale Carnegie (citando Sibyl F. Partridge) in ‘Como Deixar de Se Preocupar e Começar a Viver ' 

sábado, 9 de abril de 2016

O Espelho dos Relacionamentos

O Espelho dos Relacionamentos

A ideia do espelho dos relacionamentos é que procuramos subconscientemente nos outros o que precisamos de ver e de compreender em nós mesmos de modo a alcançarmos a integridade, o equilíbrio e a cura. O outro é um espelho através do qual podemos perceber os aspetos da nossa personalidade em que precisamos de trabalhar. É por isso que, de um ponto de vista espiritual, é inútil tentarmos mudar o comportamento dos outros como base da nossa própria felicidade. É tão fútil como tentar transformar a nossa imagem através do reflexo no espelho ou mesmo trocando de espelho. 

Quanto mais identificamos os outros como uma expressão do amor e não pelos seus comportamentos, mais fácil é evitarmos uma atitude defensiva e dar às coisas demasiada importância. Isso permite-nos ouvir, aprender e crescer através de todos os nossos relacionamentos, criando assim uma base mais profunda de amor e de ligação entre os seres humanos. É assim que usamos o espelho dos relacionamentos para crescer emocional e espiritualmente. 
Um relacionamento pode perder o interesse pelas mais diversas razões. Talvez possa dever-se a um desejo subconsciente de a terminar ou porque já cumpriu a sua missão e agora ambos estão preparados para algo mais. 

Deepak Chopra, in 'Deepak Chopra Responde: Tudo Sobre o Amor' 

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Um Cérebro Sempre Jovem

Um Cérebro Sempre Jovem

A sociedade está a ser varrida por um movimento chamado nova velhice. A norma social para as pessoas de idade era passiva e sombria; confinadas a cadeiras de baloiço, esperava-se que entrassem em declínio físico e mental. Agora o inverso é verdade. As pessoas mais velhas têm expetativas mais elevadas de que permanecerão ativas e com vitalidade. Consequentemente, a definição de velhice mudou. Num inquérito perguntou-se a uma amostra de baby boomers: "Quando tem início a velhice?" A resposta média foi aos 85. À medida que aumentam as expetativas, o cérebro deve claramente manter-se a par e adaptar-se à nova velhice. A antiga teoria do cérebro fixo e estagnado sustentava ser inevitável um cérebro que envelhecesse. Supostamente as células cerebrais morriam continuamente ao longo do tempo à medida que uma pessoa envelhecia, e a sua perda era irreversível. 

Agora que compreendemos quão flexível e dinâmico é o cérebro, a inevitabilidade da perda celular já não é válida. No processo de envelhecimento — que progride à razão de 1% ao ano depois dos trinta anos de idade — não há duas pessoas que envelheçam de maneira igual. Até os gémeos idênticos, nascidos com os mesmos genes, terão muito diferentes padrões de atividade genética aos setenta anos, e os seus corpos poderão ser acentuadamente diferentes em consequência de escolhas de estilo de vida. Tais escolhas nada acrescentaram ou subtraíram aos genes com que eles nasceram; em vez disso, quase cada aspeto da vida — dieta, atividade, stress, relacionamentos, trabalho e ambiente físico — alterou a atividade desses genes. Com efeito, não há um único aspeto do envelhecimento que seja inevitável. Para cada função, mental ou física, podemos encontrar pessoas que melhoraram com o tempo. Há corretores da bolsa de 90 anos de idade que levam a cabo complexas transações com cada vez melhor memória ao longo do tempo. 

O problema é que demasiados de nós aderimos à norma. À medida que avançamos na idade, tendemos a ficar preguiçosos e apáticos ante a aprendizagem. Deixamo-nos perturbar por menores focos de tensão, e esses focos de tensão perduram por mais tempo. O que dantes era descontado como "manias" de velho pode agora ser reportado à conexão mente-cérebro. Por vezes o cérebro é dominante nesta parceria. Suponha que um restaurante está demorado a sentar as pessoas com reservas previamente feitas. Uma pessoa mais nova obrigada a esperar na fila sente-se minimamente aborrecida, mal-estar que se dissipa uma vez sentada. Uma pessoa mais velha poderá reagir com um acesso de cólera — e permanecer ressentida mesmo depois de ser encaminhada ao seu lugar. Esta é a diferença na resposta ao stress físico pela qual o cérebro é responsável. De igual modo, quando as pessoas mais velhas se sentem subjugadas por demasiada informação sensorial (um ruidoso engarrafamento, um grande armazém apinhado de gente), os seus cérebros exibirão provavelmente uma função diminuída para aguentarem os tsunamis de dados do mundo fervilhante de atividade. 

Em grande parte do tempo, no entanto, é a mente que domina a conexão mente-cérebro. À medida que avançamos na idade, tendemos a simplificar as nossas atividades mentais, frequentemente como mecanismo de defesa ou cobertor de segurança. Sentimo-nos seguros com o que conhecemos, e desviamo-nos do caminho para evitar aprender qualquer coisa nova. O comportamento é sentido pelos jovens como irritabilidade e teimosia, mas a verdadeira causa pode ser reportada à dança entre a mente e o cérebro. Para muitas, embora não todas, pessoas mais velhas, a música abranda. O que é mais importante é que não saiam da pista de dança — o que aplanaria o caminho para o declínio da mente e do cérebro igualmente. Em vez de fazer novas sinapses, o seu cérebro persiste em fixar-se nas que já tem. Nesta espiral decrescente de atividade mental, a pessoa mais velha terá eventualmente menos dendrites e sinapses por neurónio no córtex cerebral. 

Afortunadamente podem ser feitas escolhas conscientes. Você pode escolher estar consciente dos pensamentos e sentimentos evocados pelo seu cérebro minuto a minuto. Pode escolher seguir uma curva ascendente de aprendizagem, independentemente da idade que tenha. Ao fazê-lo, criará novas dendrites, sinapses, e trilhos neuronais que realcem a saúde do seu cérebro. 

Deepak Chopra, in 'Supercérebro' 

Atingir a Felicidade

Atingir a Felicidade

Embora seja possível atingir a felicidade, a felicidade não é uma coisa simples. Existem muitos níveis. O Budismo, por exemplo, refere-se a quatro factores de contentamento ou felicidade: os bens materiais, a satisfação mundana, a espiritualidade e a iluminação. O conjunto destes factores abarca a totalidade da busca pessoal de felicidade. Deixemos de lado, por ora, as aspirações últimas a nível religioso ou espiritual, como a perfeição e a iluminação, e concentremo-nos unicamente sobre a alegria e a felicidade, tal como as concebemos a nível mundano. A este nível, existem certos elementos-chave que nós reconhecemos convencionalmente como contribuindo para o bem-estar e a felicidade. A saúde, por exemplo, é considerada como um factor necessário para o bem-estar. Um outro factor são as condições materiais ou os bens que possuímos. Ter amigos e companheiros, é outro. Todos nós concordamos que para termos uma vida feliz precisamos de um círculo de amigos com quem nos possamos relacionar emocionalmente e em quem possamos confiar. 

Portanto, todos estes factores são causas de felicidade. Mas para que um indivíduo possa utilizá-los plenamente e gozar de uma vida feliz e preenchida, a chave é o estado de espírito. É crucial. Se utilizarmos as condições favoráveis que possuímos, tais como a saúde ou a riqueza, com fins positivos, para ajudar os outros, esses factores contribuem para uma vida mais feliz. 

Claro que, pessoalmente, também tiramos partido destas coisas —-facilidades materiais, sucesso, etc., mas se não tivermos a atitude mental correcta, se não cuidarmos do factor mental, estas coisas acabam por ter pouca incidência sobre o sentimento geral de felicidade. Por exemplo, se guardarmos ódio ou rancor no fundo de nós mesmos, isso acabará por destruir a nossa saúde, destruindo assim um dos factores. Por outro lado, se nos sentirmos infelizes ou frustrados, o conforto material não chegará para nos compensar. Mas se mantivermos um estado de espírito calmo e sereno, poderemos sentir-nos felizes mesmo se a nossa saúde não for das melhores. Em contrapartida, mesmo se possuirmos objectos raros ou preciosos, podemos querer deitá-los fora ou destruí-los num momento de grande cólera ou ódio. Nesse momento, os bens não significam nada para nós. 

Existem actualmente sociedades com um grande grau de desenvolvimento material e no seio das quais muitos indivíduos não se sentem felizes. A nível superficial, essa abundância é muito atraente, mas por trás existe um desassossego mental que leva à frustração, a discórdias desnecessárias, à dependência das drogas ou do álcool e, no pior dos casos, ao suicídio. Não existe portanto nenhuma garantia de que a riqueza por si só possa trazer-nos a alegria ou a satisfação que procuramos. O mesmo se pode dizer dos amigos. Quando estamos muito zangados, mesmo um amigo muito próximo pode parecer-nos glacial, frio, distante e muito irritante. 

Tudo isto indica a enorme influência que o estado de espírito, o factor mental, pode ter na nossa vivência de todos os dias. Portanto, temos de ter esse factor seriamente em linha de conta. Independentemente de uma prática espiritual, mesmo em termos mundanos, a nossa capacidade de desfrutar de uma vida agradável e feliz depende da nossa serenidade mental. 

Talvez devesse acrescentar que quando falamos de um estado de espírito calmo ou de paz de espírito não devemos confundir isso com um estado de insensibilidade ou de apatia. Possuir um estado de espírito calmo não significa estar completamente alheado ou amorfo. A paz de espírito, esse estado de serenidade, tem de estar enraizado na afeição e na compaixão, o que implica um grande nível de sensibilidade e de sentimento. 

Enquanto nos faltar a disciplina interior que conduz à serenidade, sejam quais forem as facilidades ou as condições exteriores que nos rodeiam, elas nunca nos trarão esse sentimento de alegria e de felicidade que procuramos. Por outro lado, se possuirmos as qualidades interiores de serenidade e de estabilidade, mesmo que os factores exteriores de conforto normalmente considerados como indispensáveis à felicidade não estejam em nossa posse, podemos ter uma vida alegre e feliz. 

Dalai Lama, in 'The Art of Happiness' 

quinta-feira, 7 de abril de 2016

A Arte de Escutar

A Arte de Escutar

Quando escutares outra pessoa, não escutes apenas com a tua mente, escuta com o teu corpo todo. Sente o campo de energia do teu corpo interior enquanto escutas. Isso afastará a tua atenção do pensar e criará um espaço de quietação que te permitirá escutares verdadeiramente sem que a tua mente interfira. Estarás a dar espaço à outra pessoa - espaço para ser. É a prenda mais valiosa que podes oferecer. A grande maioria das pessoas não sabe escutar porque a maior parte da sua atenção é tomada pelo pensar. Prestam-lhe mais atenção do que àquilo que a outra pessoa está a dizer, e absolutamente nenhuma ao que realmente interessa: o Ser da outra pessoa por baixo das palavras e da mente. É evidente que tu não podes sentir o Ser de alguém excepto através do teu próprio Ser. Isto é o princípio da compreensão da unicidade, que é amor. Ao nível mais profundo do Ser, tu és uno com tudo o que é. 

A maioria dos relacionamentos humanos consiste principalmente em mentes a interagir umas com as outras, e não de seres humanos a comunicar, a entrar em comunhão. Nenhum relacionamento pode florescer dessa maneira, e é por isso que existem entre eles tantos conflitos. Quando é a mente a dirigir a tua vida, são inevitáveis os conflitos, as discussões e os problemas. Estares em contacto com o teu corpo interior criará um espaço livre da ausência de mente dentro do qual o relacionamento poderá florescer. 

Eckhart Tolle, in 'O Poder do Agora' 

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Serenidade Desperta

Serenidade Desperta

Tenho tanta coisa para fazer. Pois, mas aquilo que faz, fá-lo com qualidade? Conduzir até ao emprego, falar com os clientes, trabalhar no computador, fazer recados, lidar com os incontáveis afazeres que preenchem a sua vida quotidiana - até que ponto é que se entrega às coisas que faz? E realiza-as com entrega, sem resistência, ou, pelo contrário, sem se entregar e resistindo à acção? É isto que determina o sucesso na vida e não a dose de esforço que se despende. O esforço implica stresse e desgaste físico, implica a necessidade absoluta de atingir um determinado objectivo ou de alcançar um determinado resultado. 

É capaz de detectar dentro de si até a mais pequena sensação de não quererestar a fazer aquilo que está a fazer? Isso é uma negação da vida e, desse modo, não será possível obter resultados verdadeiramente bons. 

Se for capaz de descobrir aquela sensação, será que também consegue abdicar dela e entregar--se completamente àquilo que faz? 

“Fazer uma coisa de cada vez", foi assim que um Mestre Zen definiu o espírito da filosofia Zen. 

Fazer uma coisa de cada vez significa estar nela por inteiro, concentrar nela toda a sua atenção. Nisto consiste a acção realizada com entrega - a acção eficaz. 

A aceitação daquilo que é, do momento tal como ele é, transporta-o a um nível de profundidade tal que o seu estado interior e a consciência do eu já não dependem dos juízos mentais de "bom" ou de "mau". 

Quando disser "sim" ao "isto é assim" da vida, quando aceitar o momento como ele se apresenta, será capaz de experimentar uma sensação de imensidão interior extraordinariamente apaziguadora. 

Na aparência, poderá ainda ficar feliz quando estiver sol e não tão feliz quando chover; poderá ficar feliz se ganhar um milhão de euros e infeliz se perder todos os seus haveres. Contudo, a felicidade e a infelicidade nunca mais serão vividas de maneira tão intensa. Na verdade, aqueles sentimentos são meras rugas na superfície do seu Ser. Dentro de si, a base de paz permanecerá imperturbável independentemente da natureza das circunstâncias do mundo exterior. 

O "sim" ao momento tal como ele é revela uma dimensão de profundidade interior que não está dependente nem das circunstâncias exteriores nem das condições internas de constante flutuação dos pensamentos e das emoções. 

A entrega, a não-resistência, torna-se muito mais fácil quando percebemos que todas as experiências são transitórias e que o mundo não poderá dar-nos nada de importante que dure para sempre. Então, poderemos continuar a conhecer pessoas, a envolver-nos em experiências e em actividades, mas sem as imposições e os medos do ego. Ou seja, já não exigiremos que uma situação, uma pessoa, um lugar ou um acontecimento nos satisfaçam ou façam felizes. Aceitaremos a natureza passageira e imperfeita de tudo isso. 

E o milagre acontece, quando nos abstemos de fazer exigências impossíveis perante qualquer situação, pessoa, lugar ou acontecimento, que passam então a ser não apenas satisfatórios, mas também mais harmoniosos, mais pacíficos. 

Quando aceitamos completamente o momento, quando não contrariamos aquilo que é, a compulsão para pensar afrouxa, sendo substituída por uma serenidade desperta. Encontramo-nos plenamente conscientes, porém a mente não está a rotular o momento. Este estado de não-resistência interior abre as portas à consciência não-condicionada, que é infinitamente maior do que a mente humana. Esta vasta inteligência pode então expressar-se através de nós e ajudar-nos, tanto interior como exteriormente. Por isso, ao abandonarmos a resistência interior, descobrimos frequentemente que as circunstâncias mudam para melhor. 

Eckhart Tolle, in 'A Voz da Serenidade' 

terça-feira, 5 de abril de 2016

A Libertação do Pensamento

A Libertação do Pensamento

Conforme o leitor vai crescendo, forma uma imagem mental sobre quem é, com base no condicionamento pessoal e cultural a que está sujeito. Podemos chamar de ego a este eu ilusório. Ele consiste em atividade mental e só pode ser mantido através do pensamento constante. O termo ego significa coisas diferentes para pessoas diferentes, mas quando eu o utilizo neste livro tem o significado de um falso eu, criado pela identificação inconsciente com a mente. 

Para o ego, o momento presente praticamente não existe. Só o passado e o futuro são tidos como importantes. Esta contraposição total da verdade explica o facto de no modo ego a mente ser tão disfuncional. Preocupa-se sempre em manter o passado vivo, porque sem ele... quem é você? Ele projeta-se constantemente no futuro para garantir a sua sobrevivência contínua e para procurar lá algum tipo de libertação ou realização. Diz: «Um dia, quando isto, aquilo ou tal acontecer, vou ficar bem, feliz, em paz.» 

Até quando o ego parece estar virado para o presente, não é o presente que ele vê: o ego interpreta o presente de forma totalmente errada porque o observa com os olhos do passado. Ou reduz o presente a um meio para atingir um fim, um objetivo que se encontra sempre num futuro projetado na mente. Observe a sua mente e verá que é assim que funciona. 
O momento presente contém a chave da libertação. Porém, o leitor não pode encontrar o momento presente enquanto estiver dentro da sua mente. 

A iluminação significa erguer-se além do pensamento. No estado iluminado, o leitor também utiliza a mente pensante quando é preciso, mas fá-lo de uma maneira muito mais concentrada e eficaz do que antes. Utiliza-a, geralmente, para finalidades práticas, mas está livre do diálogo interior involuntário e a tranquilidade interior existe. 

Quando o leitor utiliza a mente, em especial quando uma solução criativa é necessária, oscila de poucos em poucos minutos entre o pensamento e a tranquilidade, entre a mente e a ausência de mente. A ausência de mente é o consciente sem pensamento. Somente desse modo é possível pensar de forma criativa, porque só dessa forma o pensamento tem algum poder real. Por si só, quando já não está ligado ao mundo bem mais vasto do consciente, o pensamento depressa se torna estéril, alienado e destrutivo. 

Eckhart Tolle, in 'A Prática do Poder do Agora'

segunda-feira, 4 de abril de 2016

A Fonte da Harmonia

A Fonte da Harmonia

A boa disposição e a alegria de um cão, o seu amor incondicional pela vida e a prontidão dele para a celebrar a todo o momento contrasta muito com o estado de espírito do dono - deprimido, ansioso, sobrecarregado de problemas, perdido em pensamentos, ausente do único lugar e do único tempo que existe: o Aqui e o Agora. E uma pessoa interroga-se: vivendo com alguém assim, como consegue o cão manter-se tão equilibrado e são, tão cheio de alegria?

Quando apreendemos a Natureza apenas através da mente, do pensamento, não somos capazes de sentir a sua força de viver e de existir. Vemos somente a parte física, a matéria, e não nos apercebemos da vida interior - o mistério sagrado. O pensamento reduz a Natureza a uma mercadoria que se usa na busca de benefícios ou de conhecimento ou de qualquer outro fim utilitário. A floresta ancestral passa a ser vista apenas como madeira, o pássaro como um objecto de investigação, a montanha como alguma coisa para se explorar ou conquistar.

Quando se apreende a Natureza, deve-se permitir que hajam momentos sem pensamento, sem a intervenção da mente. Ao aproximarmo-nos da Natureza desta maneira, ela responde-nos e, assim, participamos na evolução da consciência humana e planetária.

Repare no quanto uma flor está presente, no quanto está entregue à vida.

Aquela planta que tem lá em casa - alguma vez olhou verdadeiramente para ela? Alguma vez deixou que esse ser familiar, porém misterioso, a que chamamos planta, lhe ensinasse os segredos que encerra? Já reparou na profunda paz que ela possui? Na atmosfera de tranquilidade que a rodeia? Quando se aperceber da serenidade e da paz que uma planta irradia, ela começará a ensinar-lhe alguma coisa.

Observe um animal, uma flor ou uma árvore e veja como eles estão assentes no Ser. São eles próprios. Têm uma dignidade, inocência e santidade enormes. Todavia, para perceber isso, precisará de ultrapassar o hábito de atribuir nomes e rótulos às coisas. A partir do momento em que olhar para além dos rótulos mentais, sentirá aquela inefável dimensão da Natureza que não pode ser entendida pelo pensamento ou apreendida através dos sentidos. Trata-se duma harmonia, dum carácter sagrado que impregna não apenas a totalidade da Natureza, mas que se encontra também dentro de si.

Eckhart Tolle, in 'A Voz da Serenidade' 

Não Queira Ser Especial

Não Queira Ser Especial

Se uma pessoa se aceitar tal como é e usar as suas capacidades para desenvolver a criatividade - e todas as pessoas nascem com certas capacidades, determinados talentos e alguma criatividade será imensamente feliz apesar de não ser ninguém. Um indivíduo não tem de ser forçosamente feliz só porque se converteu no homem mais rico ou no homem mais poderoso do mundo. Estas são as noções infantis do homem primitivo, um fardo que temos carregado até aos dias de hoje.
Eu gostava de lhe pedir: abandone as palavras «aceitação total». Substitua-as por palavras simples e sinta-se alegre interiormente. No momento em que se alegrar em si mesmo, toda a existência se alegra em si. Terá, então, alcançado a sintonia com a dança harmoniosa que acontece ao seu redor.
Só o homem se desfez em pedaços, e o motivo por que se desfez tem que ver com o facto de querer ser especial. Se quiser ser especial, terá de aceitar algum tipo de loucura.

Osho, in 'Acreditar no Impossível' 

domingo, 3 de abril de 2016

A Tua Vida é Agora

A Tua Vida é Agora

Toda a negatividade é provocada por uma acumulação de tempo psicológico e de recusa do presente. Mal-estar, ansiedade, tensão, stress, preocupações - todas as formas de medo - são causados por futuro em demasia e insuficiente presença. Sentimentos de culpa, arrependimento, ressentimento, injustiças, tristeza, amargura e todas as formas de falta de indulgência são provocados por passado em demasia e insuficiente presença.
A maioria das pessoas tem dificuldade em acreditar que seja possível um estado de consciência totalmente livre de negatividade. E no entanto é esse o estado de libertação para o qual todos os ensinamentos espirituais apontam. É a promessa de salvação, não num futuro ilusório, mas já aqui e agora.

Poderás ter dificuldade em admitir que o tempo seja a causa do teu sofrimento ou dos teus problemas. Acreditas que são provocados por situações específicas na tua vida e, visto de um ponto de vista convencional, isso é verdade. Mas até teres lidado com a disfunção básica da mente "que-faz-os-problemas" - o seu apego ao passado e ao futuro e a negação do Agora - os problemas são na verdade permutáveis. Se todos os teus problemas ou as consideradas causas do sofrimento ou da infelicidade te fossem milagrosamente retirados hoje, mas se tu não te tornasses mais presente, mais consciente, depressa te verias a braços com um conjunto idêntico de problemas ou de causas de sofrimento, como uma sombra que te seguisse para todo o lado aonde vais. No fim de contas, só há um problema: a própria mente escrava do tempo.

(...) Pensas que a tua atenção está no momento presente quando na realidade ela está completamente tomada pelo tempo. Não te podes sentir infeliz e ao mesmo tempo estar plenamente presente no Agora.
Aquilo a que te referes como a tua "vida", seria mais exacto se lhe chamasses a "situação da tua vida". É tempo psicológico: passado e futuro. Há determinadas coisas que no passado não correram como querias. Continuas ainda a resistir ao que aconteceu no passado, e agora estás a resistir ao que é. A esperança é o que te vale, mas a esperança mantém-te concentrado no futuro, e essa concentração permanente perpetua a tua recusa do Agora e por conseguinte a tua infelicidade.
É certo que a situação da minha vida actual é resultado de coisas que aconteceram no passado, mas ainda assim continua a ser a minha situação actual, e o que me faz infehz é estar atolado nela.
Esquece por momentos a situação da tua vida e presta atenção à tua vida.

A situação da tua vida existe no tempo.
A tua vida é agora.
A situação da tua vida é produto da mente.
A tua vida é real.
Descobre "a porta estreita que leva à vida". Chama-se Agora. Restringe a tua vida a este momento. A situação da tua vida pode estar cheia de problemas - acontece à maior parte das situações de vida - mas verifica se tens algum problema neste momento. Não amanhã nem daqui a dez minutos, mas agora. Tens algum problema agora?
Quando estás cheio de problemas, não há lugar para que algo de novo entre, não há lugar para uma solução. Por isso, sempre que puderes, arranja algum lugar, cria algum espaço, por forma a poderes descobrir a vida por debaixo da situação da tua vida.

Usa plenamente os teus sentidos. Sê quem és. Olha à tua volta. Olha apenas, não interpretes. Vê a luz, as formas, as cores, as texturas. Sente a presença silenciosa de cada coisa. Sente o espaço que permite que cada coisa seja. Escuta os sons; não os classifiques. Escuta o silêncio por debaixo dos sons. Toca em alguma coisa -qualquer coisa - e sente e reconhece o seu Ser. Observa o ritmo da tua respiração; sente o ar a entrar e a sair, sente a energia dentro do teu corpo. Deixa que tudo seja, dentro e fora. Permite o "é" de todas as coisas. Muda-te profundamente para dentro do Agora.
Estás a deixar para trás o mundo entorpecedor da abstracção mental, do tempo. Estás a sair da mente insensata que te está a esvaziar da energia vital, exactamente como está lentamente a envenenar e a destruir a Terra. Estás a despertar do sonho do tempo para entrares no presente.

Eckhart Tolle, in 'O Poder do Agora' 

A Origem do Medo

A Origem do Medo

A condição psicológica do medo está divorciada de qualquer perigo concreto e real. Surge sob diversas formas: desconforto, preocupação, ansiedade, nervosismo, tensão, temor, fobia, etc. Este tipo de medo psicológico é sempre algo que poderá acontecer e não algo que esteja a acontecer no momento. O leitor está aqui e agora, enquanto a sua mente se encontra no futuro. Este facto gera um hiato de ansiedade. Além disso, se o leitor se identificar com a sua mente e tiver perdido o contacto com o poder e a simplicidade do Agora, esse hiato de ansiedade acompanhá-lo-á constantemente.

A pessoa pode sempre lidar com o momento presente, mas não o consegue fazer com algo que é apenas uma projeção mental - não é possível lidar com o futuro.
E enquanto o leitor se identifica com a sua mente, o ego comanda a sua vida. Devido à natureza ilusória que lhe é característica e apesar dos mecanismos de defesa elaborados, o ego torna-se muito vulnerável e inseguro, vendo-se a si próprio constantemente sob ameaça. Este facto, a propósito, é o que acontece, mesmo que por fora o ego pareça muito confiante. Agora lembre-se de que uma emoção é a reação do corpo à mente. Que mensagem está o corpo a receber constantemente do ego, o eu falso e engendrado pela mente? Perigo, estou a ser ameaçado. E que emoção gera esta mensagem contínua? Medo, naturalmente.

O medo parece ter muitas causas. Há o medo de perder, o medo de falhar, o medo de ser magoado, etc., mas, no fim de contas, todo o medo é aquele que o ego tem da morte, da aniquilação. Para o ego, a morte está sempre ao virar da esquina. Neste estado de identificação com a mente, o medo da morte afeta cada aspecto da vida.

Mesmo algo aparentemente trivial e «normal» como, por exemplo, a necessidade compulsiva de ter razão numa discussão e fazer com que a outra pessoa esteja errada (defender a posição mental, com a qual a pessoa se identificou) se deve ao medo da morte. Se o leitor se identificar com uma posição mental, se estiver errado o seu sentido de eu com base na mente, está seriamente ameaçado de aniquilação. Assim, o leitor, enquanto ego, não se pode dar ao luxo de estar errado. Estar errado é morrer. Já houve guerras travadas e inúmeros relacionamentos se desfizeram por causa desta situação.

Mal o leitor tenha deixado de se identificar com a mente, estar certo ou errado não faz diferença nenhuma para o sentido de eu, por isso a necessidade vigorosamente compulsiva e profundamente inconsciente, que é uma forma de violência, deixará de existir. O leitor pode declarar com clareza e segurança o que sente e pensa, mas não haverá agressividade ou posicionamento defensivo por causa do assunto. O seu sentido de eu deriva, assim, de um lugar mais profundo e verdadeiro dentro de si e não da mente.

Eckhart Tolle, in 'A Prática do Poder do Agora' 

sábado, 2 de abril de 2016

O caminho

O caminho faz-se caminhando.
Esta poderosa afirmação, introduz na nossa vida que o mais importante é o caminho.
Muitas pessoas colocam o seu foco principal no resultado, objectivo ou destino.
O escritor Eckart Tolle, autor do livro Poder do agora, afirma que o único momento que conseguimos controlar e agir é o agora.
Esta é uma verdade incontornável.
Quando estamos demasiado focados no resultado ou destino, podemos perder a beleza do caminho.
Experienciei há pouco tempo este facto, ao fazer uma caminhada de 7 horas da conhecida peregrinação a pé a Fátima.
Foi maravilhoso experienciar que ao focar-me no destino, o meu corpo ficava mais cansado e com mais dores. Quando me focava apenas no agora e no caminho, desligando-me do destino, além de apreciar ainda melhor o caminho, conseguia fazê-lo de forma muito mais harmoniosa, fácil e feliz desfrutando do momento.
É óbvio que todos precisamos de um rumo ou orientação, chamado de objetivo, resultado ou destino.
Contudo é muito diferente ter esse rumo ou fazer o caminho até esse destino focado e ligado ao destino, perdendo o agora.
Isto acontece, nas mais variadas situações.
No trabalho, na família, nas férias, nas relações, na vida social e no quotidiano.
Percebi com a minha experiência que quando caminho demasiado focado no resultado, perco a beleza do agora e que quando caminho focado no agora, desfruto do caminho e chego ao objectivo mais  facilmente e mais rapidamente.
Independentemente de qualquer circunstância, chegaremos ao final do caminho.
Eu cheguei e chegarei sempre.
A diferença é que agora desfruto enquanto não chego e ainda caminho.
O AMOR é o caminho.

O Significado da Vida

O Significado da Vida

Terá a vida algum significado, algum sentido ou valor? A pergunta é: a vida, viver, terá algum propósito? Será que viver nos fará chegar, um dia, a algum lado? Viver é um meio. A meta, o objetivo, esse lugar muito distante situado algures, é o fim. E é esse fim que lhe confere sentido. Se não houver um fim, a vida não terá, certamente, sentido, e será preciso criar um Deus para lhe dar sentido. 
Primeiro, foi preciso separar os fins dos meios. Isto divide a nossa mente. A nossa mente está sempre a perguntar porquê? Para quê? E tudo o que não consegue dar uma resposta à pergunta «Para quê?» vai perdendo lentamente valor para nós. Foi assim que o amor se tornou algo sem valor. Que sentido faz o amor? Onde poderá levar-nos? Que alcançaremos com ele? Chegaremos a alguma utopia, a algum paraíso? É evidente que, encarado dessa maneira, o amor não faz nenhum sentido. É vão. 

Que sentido tem a beleza? Contemplamos um pôr do sol e ficamos deslumbrados com a sua grande beleza, mas qualquer idiota pode perguntar-nos, «Que significa um pôr do sol?», e não teremos uma resposta para lhe dar. E se não significa nada, porque passamos o tempo a elogiar-lhe a beleza, desnecessariamente? 
Uma flor bonita, um quadro bonito, uma peça musical bonita, um poema bonito, nenhum deles serve para nada. Não são argumentos que provem alguma coisa, nem são meios para atingir um fim. 
E viver resume-se às coisas que são inúteis. 

Permitam-me que repita: viver resume-se às coisas que são inúteis, que não têm qualquer significado, entendendo significado como algo desprovido de um objetivo, que não nos conduz a lado nenhum, no sentido em que não retiramos nada delas. 
Dito de outro modo, viver é significativo em si mesmo. Os meios e os fins estão juntos, e não separados. 

Osho, in 'A Magia da Autoestima' 

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Já Está na Altura de Perder as Ilusões

Já Está na Altura de Perder as Ilusões

As ilusões das pessoas vão mudando. Quando são jovens, têm a ilusão do amor; pensam que o amor talvez consiga abrir as portas de todos os mistérios. O amor abre realmente as portas, não as dos mistérios, mas as das misérias. Há outros indivíduos a quem só interessa ganhar dinheiro. Quando perguntaram a Henry Ford: «Ganhou mais dinheiro do que qualquer outra pessoa no mundo. Agora que chegou ao topo, como se sente?», ele respondeu: «Completamente frustrado, porque no topo não existe nada. O que aprendi ao longo de toda a minha vida foi a subir escadas. Fui subindo, na esperança de que no degrau seguinte pudesse estar a realização, mas a realização nunca se alcança.» 
Quando as pessoas perdem as suas esperanças, ilusões e sonhos mundanos, então mudam e começam a ter esperança no crescimento espiritual, em Deus e no paraíso. Estas são as mesmas pessoas e as mesmas mentes que não aprenderam absolutamente nada. 
A não ser que não possua quaisquer tipo de ilusões - o que significa que já não pensa no amanhã não conhecerá a verdade pura da existência, que apenas existe nesse momento. Não se encontrará em sintonia com o mesmo, e, portanto, estará sempre a afastar-se, a adiar, a ir, a caminhar. 
Já está na altura de perder por completo as ilusões: ilusões mundanas, ilusões não-mundanas, amor, dinheiro, iluminação. Limite-se a ser o que é e assim terá chegado a casa. 
Na verdade, nunca a deixou realmente. Esteve sempre aqui. 

Osho, in 'Acreditar no Impossível' 

Acreditar na Mudança

Acreditar na Mudança

Se elevar os seus padrões, mas não acreditar realmente que os pode cumprir, já se terá sabotado. Nem sequer vai tentar. Faltar-lhe-á aquela sensação de certeza que lhe permite tirar proveito da capacidade mais profunda que reside dentro de si enquanto lê isto. As nossas crenças são como ordens não questionadas, dizendo-nos como as coisas são, o que é possível e impossível, o que podemos e o que não podemos fazer. Dão forma a todas as nossas ações, pensamentos e sentimentos. Como resultado, mudar os nossos sistemas de crenças é fundamental para fazer qualquer mudança real e duradoura nas nossas vidas. Temos de desenvolver uma certeza de que podemos e iremos cumprir os novos padrões antes de o fazermos realmente.

Sem assumir o controlo dos seus sistemas de crenças, pode elevar os seus padrões tanto quanto lhe apetecer, mas nunca terá convicção para os defender. O que acha que Gandhi teria conseguido se não tivesse acreditado profundamente no poder da oposição pacífica? Foi a congruência das suas crenças que lhe deu acesso aos seus recursos interiores e lhe permitiu enfrentar os desafios que teriam derrubado um homem menos dedicado. As crenças fortalecedoras - esta noção de certeza - são a força que está por trás de todos os grandes sucessos da história.

Tony Robbins, in 'Desperte o Gigante que Há em Si'